Louça Caxixi: louça de Cosme
22 de set de 2014
A tradicional louça de barro de Maragogipinho, Recôncavo da Bahia, forma um magnífico acervo de formas, de tipos; de maneiras de trazer invenção e utilidade aos objetos. Há uma longa tradição de se fazer quartinhas, quartinhões, alguidares, moringas; travessas, pratos, copos, sopeiras, panelas variadas; e que esteticamente são reconhecidas pelo estilo, cor e textura, como próprios do artesanato dos ceramistas de Maragogipinho. Um território consagrado a este tão significativo patrimônio da invenção da Bahia.
Em geral, o tipo “caxixi” refere-se a miniatura de um grupo de variados objetos que estão nas cozinhas, e que são usados para se fazer comida e servir comida e água. Estas “louças-miniaturas” servem também para o oferecimento das comidas e das bebidas votivas nos altares de São Cosme e São Damião; e para as devoções africanas aos Erês Ibejis – crianças gêmeas cultuadas nos costumes milenares da civilização Yorubá, uma civilização coformadora da cultura da Bahia.
As relações com os objetos de Cosme e dos Ibejis traduzem um imaginário infantil, e por isso interpretados nesta dimensão de miniatura, no caso dos caxixis, louças de brinquedo que se integram às devoções populares.
Alguns caxixis são de barro vidrado ou vitrificado, outros no formato das najés –utilitários arredondados com temática de pinturas sobre: peixe, galinha d’angola, folhas, flores –; e que são usados normalmente para servir farofa, vatapá, efó; molhos, entre eles o de “lambão”; entre tantos usos e funções à mesa.
Os muitos utensílios da louça caxixi são colocados próximos às imagens de São Cosme e de São Damião, ou das esculturas em madeira dos gêmeos Ibejis, contendo as comidas feitas à base de azeite de dendê, as mesmas comidas que serão servidas aos que vivem suas festas, festas do muito bem comer. Caruru de quiabos, vatapá, efó, farofa de azeite; acaçá branco, acaçá vermelho, abará, acarajé; feijão de azeite, galinha de xinxim, pipocas, roletes de cana de açúcar; balas, cocadas, aluá, vinho moscatel; e muito mais para se louvar com a boca a fé e a devoção aos gêmeos que a Bahia cultua e festeja com dendê.
Raul Lody
22 de setembro de 2014