Alguidar: um utensílio afro-islâmico na Bahia
10 de nov de 2015
Alguidar é uma palavra que provem do persa “godar” e seguiu para a língua árabe como “al-guidar”, e assim chega à língua portuguesa. É um objeto de barro caracterizado como um vaso para uso doméstico comumente usado na cozinha artesanal.
A nossa língua portuguesa é permeada de muitas palavras provenientes de diferentes línguas de povos afro-islâmicos, africanos, árabes, e desta maneira pode-se dizer que, sem dúvida, fala-se também “à africana” no Brasil.
Essas presenças civilizatórias de povos africanos estão também presentes nos nossos hábitos alimentares, em receitas como, por exemplo, o arroz doce, os filhóses, o acaçá, nos pratos feitos com quiabos, além do amplo uso do dendê.
O alguidar tem diferentes tamanhos e funciona como um importante utensílio culinário para a preparação de receitas tradicionais, e ainda é usado no serviço à mesa. Ele é quase sempre vitrificado, o que amplia e possibilita o seu uso nas técnicas culinárias, como imersões para temperar carnes, peixes, aves; e também um utensílio comum para se fazer molhos frescos como o tão apreciado “molho lambão”, feito à base de suco de limão, água, salsa, cebola e pimentas também frescas.
Ainda, o alguidar é uma verdadeira referência da cozinha tradicional baiana e é um utilitário marcante no imaginário de matriz africana. Ele está integrado nos muitos espaços dos terreiros de candomblé para variadas funções sagradas.
A grande produção de alguidares está nas olarias do Recôncavo da Bahia e a sua comercialização ocorre nas feiras e nos mercados. Na cidade do Salvador, destaque para a feira de São Joaquim, onde há uma ampla oferta de utilitários de madeira, de fibras naturais, de flandres, de barro, entre eles estão os alguidares.
Nas muitas cozinhas da Bahia, o uso do alguidar marca o conhecimento de sabe fazer comida seguindo as técnicas tradicionais.
Raul Lody, 04 de novembro de 2015.