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Pititinga na folha de bananeira ou com dendê

06 de mar de 2017

Minha referência sobre esse peixinho tão gostoso vem das muitas visitas que fiz ao Recôncavo e, em especial, a Santo Amaro e a Cachoeira. As pititingas fritas, crocantes, e enfiadas em palitos de madeira, para serem comidas como uma refeição rápida; e se acompanhadas de cerveja bem gelada, ou de uma boa cachaça da região, era uma festa para o paladar e o espírito. 

Ainda, a pititinga com muito dendê, e acompanhada por um suculento pirão de leite, e farofa de azeite e arroz, é um verdadeiro banquete. E mais ainda se houver a pimenta para ampliar as emoções à boca, e se harmonizar com o dendê, é um convite de pura emoção, para se viver a comida de corpo inteiro.

Conhecida também como manjuba ou manjubinha, a pititinga – Anchoviella lepidentostole –, é um peixinho muito popular dos oceanos tropicais. A sua interpretação mais tradicional é a moqueca no estilo “moquém indígena”, que era oferecido nos tabuleiros das baianas de acarajé, e conhecida como moqueca de folha.  Era preparada sobre brasas, e as pititingas estavam embrulhadas nas folhas de bananeira, como o nosso abará e o acaçá.

A comida embalada em folhas mostra uma técnica milenar dos povos nativos fazerem comida.  Técnica culinária como a do “tamal”, que acontece em toda a América do Sul, no México, e em outros territórios que dão continuidade às receitas das civilizações pré-hispânicas.

Na Bahia, há muitos preparos culinários que mantém essas técnicas dos povos nativos que passaram a se comunicar com a cozinha de matriz africana. A pititinga, e muitos outros peixes, vem marcar a cozinha baiana, essa cozinha de interpretações, de ingredientes da terra e do mar; de folhas e de frigideiras; e, de amplos e variados cardápios do Litoral.

Raul Lody