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Comer nas Festas de Largo

05 de jan de 2018

O tempo da festa é um momento especial que é marcado por comidas que dão identidade a esta celebração. E determinados ingredientes torna-se notáveis indicadores destes momentos de expressão coletiva, quando cardápios especiais passam a revelar temas e características peculiares de cada festa, de cada devoção.

Na Bahia, as festas de Largo são um bom exemplo de celebrações públicas, e de bases religiosas, entendendo-se que a fé baiana se amplia numa fé afro-católica, onde há anualmente um calendário que reúne datas que vão de dezembro até fevereiro, e estas festas concentram-se especialmente na cidade do São Salvador. 

Nas festas de Largo, denominada assim por serem vividas nos Largos, nos adros, nas áreas externas e próximas as igrejas dos santos homenageados, acontecem expressões de religiosidade, como procissões, numa forma devocional que traz o estilo baiano de unir o orixá com o santo da Igreja.

Essa expressão particular marca também uma sociabilidade feita a partir de cozinheiras e de cozinheiros tradicionais que através dos cardápios, dos seus verdadeiros restaurantes itinerantes, acompanham as festas, e realizam nos Largos os encontros de comensalidade e fé coletiva.

Esses cozinheiros e cozinheiras trazem os cardápios tradicionais relacionadas às festas, geralmente compostos por comidas de sustança, tais como: cozido, vatapá, caruru, sarapatel; feijoada, feijão de azeite, moquecas de peixe; entre tantas outras receitas que se juntam as ofertadas nos tabuleiros das baianas de acarajé. Ainda, as frutas de época estão integradas aos banquetes destas festas.

Destaco agora, no mês de janeiro, a festa  que acontece no largo da igreja de Nosso Senhor do Bonfim, a tão tradicional Lavagem.  Uma festa aonde Nosso Senhor do Bonfim e o orixá Oxalá são celebrados com as águas que vão relembrar a purificação e a fertilidade do homem; e são as baianas que vêm ricamente vestidas de branco e trazem água perfumada nas suas quartinhas.

São tantas maneiras para se viver a devoção, e cada um, seja pelo contato com as águas das quartinhas das baianas, seja por comer um abará, uma cocada, um bolinho de estudante, experimenta a sua fé.

 

 

Raul Lody