Baiano de Acarajé
04 de fev de 2013
As atividades sociais e comerciais de venda pública de comida, no nosso caso brasileiro, são fundadas com os “ganhos”, a partir de autorizações da Colônia para africanos em condição escrava, geralmente alugados, para poder comercializar doces, frutas; objetos artesanais em fibra, madeira, flandres, entre outros; em atividades bem determinadas pelos papéis feminino e masculino.
Tradicionalmente, a venda de comida sempre foi marcada pelo “ofício” feminino. A rica iconografia histórica, dos séculos XVII, XVIII e XIX, mostra as muitas maneiras como se vendia comida nas ruas, e que eram feitas pelas “ganhadeiras”, “quituteiras”, mulheres de “gamela” e de “tabuleiro”, que tiveram a sua continuidade com as “baianas de acarajé”. Este ofício vive seu cotidiano através de milhares de mulheres que fazem do tabuleiro o seu “lugar” de trabalho.
Agregado ao tabuleiro surge uma nova categoria que se integra a esse ofício, são os “baianos de acarajé”. Eles cumprem os mesmos cardápios, têm os seus tabuleiros repletos de: acarajé, abará, cocadas, entre outros. Eles realizam todos os rituais, e estéticas, que identificam esse ofício de matriz africana na Bahia.
As mulheres estão desempenhando seu ofício de bata, saia, torço, e pano de costa; e, os homens estão de abada (tipo de túnica) e de eketé (tipo de gorro), fazendo uma referência ao imaginário africano.
Sem dúvida, o ofício de vender comida nas ruas vem preservando vários tipos de comidas, as suas identidades, os seus sabores e as suas técnicas culinárias. Por exemplo, o acarajé, que é preparado aos milhares, faz diariamente uma aproximação cultural entre a África e a Bahia.
Assim, o acarajé determina o trabalho de milhares de mulheres; e, nesse caso agora, também de homens, os baianos de acarajé, no desempenho do ofício de fazer e de vender comida na rua.
Raul Lody
04 de fevereiro de 2013