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Caruru de Cosme e Damião

01 de set de 2014

Caruru de Cosme e Damião

Nas tradições da Bahia, são muitas as devoções dentro das casas para louvar os santos populares, pois as relações com o sagrado são antes de tudo íntimas e pessoais. 

Assim, em setembro, acontecem muitos rituais coletivos de se comer em devoção aos santos gêmeos São Cosme e São Damião. Estas festas domésticas têm um prolongamento nos terreiros de candomblé, onde são lembrados também com comidas os “éres Ibejis”, que representam a fertilidade e a maternidade, e são também deuses familiares para rituais especiais; e muitas vezes cultua-se os Ibejis como  os santos católicos que se relacionam com estas divindades do povo Yorubá.

Tudo acontece com muita comida de “azeite”, ou seja, comidas de dendê: acarajé, abará, feijão de azeite, xinxim de galinha, farofa de dendê; e o caruru de quiabos, com temperos e dendê; ainda há outras comidas como acaçá, doboru, cana de açúcar, balas, e aluá a base de rapadura, milho vermelho, água e gengibre, e também vinho.  Cada comida é ritualmente servida para iniciar um banquete exclusivo para as crianças.

Tudo acontece com muita comida, pois é necessário marcar a fartura, e a fertilidade une-se também ao significado de fartura, fartura de comida e de bebida.

O caruru é ritualmente servido numa grande gamela de madeira, e os preceitos também indicam que se deve comer “de mão”, uma maneira devocional de se comer em âmbito sagrado.

E a comida, na sua plena condição, estabelece relações com os santos, com os éres Ibejis, e em cada comida há um sentimento de fé e de festa, e se celebra nos sabores as receitas de matriz africana  e a cultura da Bahia.

 

Raul  Lody