coluna raul lody

Onjé pupa – Comida vermelha

30 de nov de 2015

As cores das comidas revelam sentimentos que traduzem natureza, mito, sacralidade e muitos outros significados conforme a cultura e o povo.

Já é reconhecido o valor cromático da comida, que começa a partir das cores de cada ingrediente, as suas misturas e a realização estética de cada prato.

As cores trazem símbolos e também sabores especiais e isto orienta a forma de consumir, o ato de comer, o ritual de sociabilidade e/ou o sistema alimentar ao qual pertence esta comida.

Na Bahia há um conjunto de comidas que são interpretadas como comidas  vermelhas porque integram o azeite de dendê às receitas, por exemplo, o “epô pupa”, que significa azeite vermelho segundo a civilização ioruba da África Ocidental.

Entre as tantas receitas de comidas vermelhas que chegam da tradição ioruba para Bahia, destaque para o acarajé, uma comida que marca o ofício da mulher, como também o comércio de comida.

O bolinho de fogo, comida ritual de Oyá ou Iansã, mulher guerreira e liberada que ensinou as outras mulheres a terem um ofício, o de fazer acarajé, para assim garantirem a sua independência financeira e cuidar da família e dos filhos. Este “itã”, conto ioruba, sobre o acarajé, reafirma uma importante dimensão cultural da comida no papel social da mulher.

Assim, a baiana de acarajé é uma continuadora desta antiga tradição ioruba de fazer e vender nas ruas o acarajé.

O vermelho do dendê dá identidade, sabor; perfume, durante a fritura que invade as ruas e traz emoção e desejo de comer um acarajé crocante, fofinho, quentinho, que é coroado com o molho Nagô.

 

Raul Lody

30 de novembro de 2015