COLUNA RAUL LODY
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MERCADO e sociabilidades

Sem dúvida, o mercado é  um dos lugares mais notáveis para se estabelecer relações sociais, porque a ancestralidade do mercado trás memórias  simbólicas que mostram as relações  das pessoas com a natureza através dos muitos produtos agrícolas,  dos objetos artesanais, das comidas e bebidas, entre outras manifestações  que atestam identidade.

Assim, este espaço, o mercado, é  também consagrador, pois possibilita estabelecer os ofícios, as maneiras de comercializar, de viver o terroir, e tudo que singularize a pessoa e  o seu grupo social.

Estar no mercado é estar em contato com as melhores manifestações que afirmam as relações com a cultura, e que afirmam os papéis  sociais das pessoas.

O mercado popular e tradicional é, assim, um lugar privilegiado em que o território é permanentemente marcado nas suas peculiaridades. É por isso que cada mercado assume uma verdadeira síntese social, econômica e patrimonial.

Ainda, o consumo nos mercados reforçam os hábitos alimentares regionais, seja com as escolhas dos alimentos, ou dos demais produtos que possam afirmar diferença  e alteridade.

Por tudo isso, cada mercado assume um valor muito especial enquanto um espaço  notável  de destaque para a história e para o entendimento pleno dos valores patrimoniais de um território. 

Assim, viver o mercado afirma e mostra o território, e  por isso é  viver também  os diferentes rituais que promovem as sociabilidades.

E a Bahia é repleta de mercados populares e tradicionais, assim preservar e valorizar os mercados é também preservar os sistemas alimentares e as bases etnoculturais.

 

Raul Lody

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.