COLUNA RAUL LODY
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Com milho, festa e devoção

Nas culturas de diferentes povos, as festas buscam culminâncias da vida cotidiana, das atividades sociais e econômicas, e, em especial, das religiosas. O ato de festejar é um ato repleto de significados que manifestam desejos pessoais e coletivos, e formam a identidade de cada celebração.

As festas populares e tradicionais são expressas através de roupas especiais, músicas, danças, autos, alegorias; cortejos, comidas e bebidas; que marcam um momento especial para transgredir o cotidiano, é o tempo da festa.

Muitas vezes, as festas são avaliadas e comentadas pelas suas comidas e bebidas; e traz assim um sentimento, quase comum, de que a festa é realmente uma boa festa pelas comidas e bebidas que são oferecidas durante os diferentes rituais sociais que identificam cada tipo de celebração.

No nosso amplo e rico Ciclo Junino, que acontece em todo o Brasil, vivenciam-se as memórias coletivas e tradicionais que expressam diferentes devoções e formas de manifestar sociabilidades.

No caso da Bahia, com suas bases civilizatórias nas muitas matrizes africanas, vê-se nas festas de junho, dedicadas historicamente aos santos Antônio, João e Pedro, inclusões do sincretismo afrocatólico com alguns orixás e, em especial, com o orixá Xangô, que também tem as suas festas nos terreiros de candomblé durante o mês de junho.

Nestes diferentes contextos, destacam-se as muitas comidas de milho, comidas doces e salgadas, que fazem os cardápios das festas estão também nas mesas familiares, nas bancas de feiras e mercados, nas vendas de ambulantes nas ruas. Pamonha, mugunzá, canjica, lelê; acaçás branco e vermelho; adalu, cuscuz, angu, bolos, biscoitos; mingaus de beber; afurá, aluá; entre tantas delícias feitas à base de milho constituem  os cardápios que singularizam as celebrações de junho na Bahia.

RAUL LODY

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.