As receitas das comidas e das bebidas recuperam não apenas os processos culinários, e as maneiras de escolher os ingredientes, mas recuperam principalmente as histórias, os modos de vida, as tendências gastronômicas; os usos e as formas de ritualizar a alimentação nos seus mais diversos contextos sociais, econômicos e culturais.
Escolher uma receita, e realizar a sua socialização com o objetivo de informar e contextualizar as suas matrizes étnicas, é trazer as suas representações simbólicas dentro da alimentação, dos hábitos, e das formas de comer nos seus rituais de comensalidade.
A receita é um texto memorial repleto de significados que localizam a pessoa e o seu ambiente social, ela vai muito mais além dos sabores, pois os seus diferentes processos culinários trazem profundas referências e simbolizações que afirmam identidade e pertencimento a uma cultura diante de um cardápio.
Na vasta criação de receitas afro-baianas, vê-se uma forte vinculação com o sentimento sagrado, forma-se assim um amplo acervo nas cozinhas dos terreiros de candomblé e de outras manifestações religiosas. Neste cenário social e religioso, trago o adalu, uma comida ritual que é dedicada ao orixá Oxumarê, sendo feita à base de milho, amarelo ou vermelho, e feijão preto, temperos com cebola e camarão defumado e azeite de dendê.
As comidas rituais religiosas afro-baianas são também comidas para serem consumidas pelas pessoas, e isso faz uma forte união simbólica entre o ato de nutrir e o ato sagrado.
Assim, o adalu é uma receita que foi recuperada pelo MGBA com o objetivo de valorizar a diversidade da cozinha afro-baiana, e de possibilitar novas experiências e reflexões sobre os processos culinários e identitários das populações afro-diaspóricas.
Desse modo, o MGBA cumpre o seu papel de trazer referências e estudos sobre o patrimônio alimentar da Bahia, e de localizar sempre este património nos seus ambientes da biodiversidade, dos saberes tradicionais, das matrizes étnicas e das possibilidades nutricionais.
RAUL LODY