“Meu Divino São José
imploro em vossos pés
mandar chuvas em abundância
meu Jesus de Nazaré”.
( poesia popular)
São muitas, e diversas, as relações ancestrais entre o homem e a agricultura que trazem ligações com as mitologias, a religiosidade, e tantas outras maneiras de manifestar ancestralidade aliada às técnicas do plantio e da colheita.
Sem dúvida, a sabedoria tradicional nos campos, especialmente no trato com as sementes, mostra que há grandes e ricos repertórios relacionados ao conhecimento das culturas alimentares, que se manifestam conforme as características dos ecossistemas e os hábitos culturais das populações envolvidas com os diferentes processos de lidar com a terra.
Nestes amplos contextos ecológicos, sociais e culturais, destaca-se uma semente, tanto pela sua importância quanto pelo seu significado para a alimentação de milhares de pessoas. Refiro-me ao milho, que é o cereal mais consumido no mundo.
Na agricultura brasileira, há várias maneiras populares e memoriais de lidar com o milho, um ingrediente tão marcante na formação do nosso patrimônio alimentar, e base para amplos e diversos cardápios do cotidiano e das das festas, especialmente as festas dedicadas aos santos populares de junho Antônio, João e Pedro.
No Nordeste há uma forte tradição, apoiada na devoção e na religiosidade, que diz que se deve semear o milho, plantar o milho, no dia de São José, 19 de março, para então colher em junho, próximo as datas dos santos populares de junho, visto que o milho é colhido em torno de 90 dias após o seu plantio.
Assim, o consumo deste cereal nas festas, nas muitas festas celebradas nas mesas brasileiras com pamonha, canjica, mugunzá, bolos, biscoitos, acaçás, entre tantas outras comidas, é também a manifestação de ritos ancestrais que preservam importantes patrimônios alimentares.
Raul Lody