Com a criação da FAO (ONU) – “Food and Agriculture Organization” –, em 16 de outubro de 1945, para tratar da alimentação, e também da fome no mundo, vê-se que estes temas são fundamentais quando se quer garantir os direitos humanos; e o principal deles é o direito a comida, o direito a ter soberania alimentar.

Nos contextos atuais das grandes imigrações, onde há uma verdadeira diáspora de alimentos e receitas que mostram sistemas alimentares, são difundidos por milhões de refugiados que se espalham pelo mundo.

Os imigrantes recorrem as suas memórias ancestrais e as suas sabedorias tradicionais para manter as suas receitas e a suas maneiras de fazer comida.

E assim, nessa diáspora, que também toca o Brasil através de comidas e processos culinários imigrantes, percebe-se uma presença cultural diversa, o que confirma que populações imigrantes manifestam o seu pertencimento a um lugar, a uma história, a uma civilização pela sua comida para atestar sua identidade, sua alteridade.

Tudo isso também faz parte de temas que integram o conceito do Museu da Gastronomia Baiana, um museu contemporâneo que tem como objetivo maior a compreensão da comida.

O nosso Museu olha e interpreta a comida em todos os aspectos que possam representa-la dentro da complexidade das relações sociais, e da diversidade cultural.  Estas questões dão a base para o processo de construção de um pensamento amplo e sensível que está relacionado ao direito à alimentação.

Assim, a data que celebra o dia mundial da alimentação é um marco para se empreender uma busca pelo entendimento social, econômico, ideológico, nutricional, e cultural que faz parte da comida nos cenários da globalização.

E esta globalização convive com os muitos segmentos étnicos, com diferentes populações e civilizações, onde sempre é a comida, nos seus múltiplos significados, irá mostrar as características das culturas de diferentes regiões do mundo e de suas populações.

E o Museu da Gastronomia Baiana é um lugar privilegiado para tratar destas questões através de seus seminários, publicações de livros; coluna web temática, que já tem 106 artigos publicados no site; e promoção de visitas aos espaços.  Tudo faz parte de um roteiro que possibilita muitas experiencias interativas, e a principal delas é comer. E assim, o Museu é também um pioneiro no Brasil.

O dia mundial da alimentação é uma maneira de trazer o foco para a comida nas suas múltiplas maneiras de ser entendida, pois sua compreensão vai muito além de preocupações gastronômicas, ou do fashion midiático que quer mostrar de maneira de fazer uma comida-show.

A comida vai muito além dos sentidos porque ela é marcada por simbolizações de vida, de festa, de cotidiano. Ela se manifesta como a forma mais verdadeira de patrimônio, de conhecimento, de diversidade, de manifestação de lugar social de uma pessoa, de um grupo, de uma etnia, de uma sociedade.  Sem dúvida, na comida se reconhece os diferentes acervos culturais de um povo.

Raul  Lody