coluna raul lody

O pão da festa

14 de dez de 2017

Sabe-se que as receitas nascem de experiências e de oportunidades, porque os ingredientes se mostram de acordo com os seus contextos ambientais, sociais e econômicos, que, desse modo, possibilitam dar significados simbólicos e organizar receitas.

A partir daí se pode, diante do prato, interpretar o uso de leguminosas, farinhas, frutas, carnes, especiarias, que trazem sabores, memórias pessoais e familiares; e os seus símbolos que também são comidos. Come-se no só para nutrir e ter prazer. Come-se também para significar, para localizar território; e afirmar pertencimento a uma história.

Estas escolhas determinam os sistemas alimentares, que estão representados nas comidas e nos rituais de comensalidade de cada sociedade, etnia, civilização. No caso ocidental cristão, o pão é um alimento repleto de valores religiosos, e é uma marca da ética do trabalho: “o pão nosso de cada dia”. Dessa maneira, o pão recebe muitas interpretações à mesa, ora como alimento principal, ora como ingrediente que faz parte dos processos clássicos de reaproveitamento.

Por exemplo, a rabanada, fatias douradas ou fatias de parida, entre outros nomes desta comida que marca as festas do Natal, são fatias de pão embebidas no leite e açúcar, passadas em ovos, e depois de fritas no óleo são pulverizadas com açúcar e canela. 

A fatia de parida integra o cardápio tradicional, no Nordeste, para a mulher que está de resguardo, e tem esse alimento como uma comida de “sustança”.  No caso da festa de Natal, é uma lembrança de Nossa Senhora que havia parido o Menino Deus. Já o nome fatias douradas, creio, que seja porque após a fritura o pão passa a ter um aspecto quase dourado.

Assim, as comidas das festas são sempre tradutoras de enredos que trazem as simbologias de santos, de datas, e de muitos outros aspectos que justificam cada celebração.

Raul Lody