coluna raul lody

Tabuleiros, cestos e pipocas.

03 de ago de 2015

Devoções públicas na paisagem “afro” da cidade do São Salvador.

 

No mês de agosto, a Bahia amplia ainda mais as suas tradições de matriz africana, e, então, nas ruas da cidade do São Salvador estão presentes as mulheres vestidas à baiana, de branco, para mostrar seus símbolos religiosos do candomblé e afirmar as identidades do sagrado pela comida ritual.

Refiro-me as pessoas que visitam as ruas e praças da cidade com os cestos de pipocas, o “doboru”, uma comida que identifica o orixá Omolu, um dos mais populares da cidade. É um tipo de ritual público que simboliza o momento em que este orixá vem visitar Salvador. Assim, há caminhadas pelas ruas da cidade portando os tabuleiros e cestos para mostrar as diferentes maneiras de se entender uma fé misturada entre a matriz africana e os santos São Roque e São Lázaro, que representam o orixá Omolu, no imaginário afro-baiano.  

Cestos com pipocas, e outros com pipocas e fatias de coco (Cocos nuscifera), que são devidamente colocados entre toalhas brancas de renda ou de bordados alvíssimos; e também os tabuleiros contendo objetos sagrados que representam o orixá.

As caminhadas com os cestos e tabuleiros são importantes rituais públicos que revelam as festas que irão ocorrer nos terreiros. Então punhados de pipoca são oferecidos as pessoas na rua por um pagamento livre. Estes punhados de pipocas, segundo a tradição, são jogados sobre o corpo das pessoas num ato de purificação; ou ainda as pipocas podem ser consumidas como alimento. E assim estes momentos são importantes maneiras de se experimentar alguns dos patrimônios culturais da Bahia de base afro-católica.

A pipoca é um processo culinário feito a partir do milho. E o milho é um cereal latino-americano que é usado milenarmente pelos povos nativos, e ele é uma marca notável das ricas cozinhas das civilizações pré-hispânicas.

O milho tem seu uso ampliado nas interpretações das culturas africanas em diferentes cardápios que acompanham as ações formadoras deste continente na construção da nossa identidade de povo.

Essa identidade está marcada especialmente dentro das cozinhas dos terreiros de candomblé da Bahia; pois as cozinhas são lugares privilegiados, onde as memórias africanas são preservadas e também reinventadas.

 

Raul Lody