COLUNA RAUL LODY
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O café ganha o mundo com os árabes
foto de JORGE SABINO
foto de JORGE SABINO

Esta bebida tão nossa, tão brasileira, chega do continente africano nos seus dois tipos mais importantes, que são os grãos Arábica e o Robusta, e que ganharam o mundo com os árabes, pois o café faz parte dos seus hábitos alimentares, e por isso eles espalharam este grão pelo mundo. Também o nome café procede da palavra árabe gahwa, que designa ainda outra bebida, o vinho.

Até o século XVII, o uso do café como bebida marcou a civilização árabe, na formação de hábitos e na afirmação dos seus rituais de sociabilidade, sempre agregados ao ato de beber café como um sinônimo para o sentido do bem receber e da hospitalidade. Assim, o café revelou-se e passou a ocupar um lugar especial nas relações sociais humanas neste amplo e rico imaginário que temos sobre esse grão e sua história, numa verdadeira diáspora realizada pelos povos muçulmanos.

Nessas tradições árabes, o café é uma bebida muito sofisticada, e deve ser servida de cardamomo – Elettaria cardamomum, especiaria procedente da Índia –, e/ou ainda de água de rosa ou de flor de laranjeira, e para acompanhar, diz o bom costume, serve-se tâmaras

O café tradicional árabe não é coado, ele segue um processo especial que começa no aquecimento da água no dallah, um tipo de caçarola, e após aquecida permanece no fogo médio, mas sem deixar que ferva, quando é colocado o café moído; então, deixa-se o café liberar o seu aroma e sabor, aí se retira do fogo e se acrescenta o cardamomo ou água de flor.  Na sequência, o café irá descansar, até o momento de servir. Serve-se o café num recipiente sem alça, como uma pequena cuia de louça, a finjaan. Depois, a bebida ficará por alguns minutos para assentar o café moído no fundo da taça, e então poder ser consumido, sem açúcar. Diz ainda o costume que se deve beber mais de uma dose de café como forma de demonstração da qualidade e do sabor do café.

Hoje, o café é produzido em mais de setenta países e, em especial, no Brasil. E no Brasil, destaque especial para o café produzido na Bahia.

Raul Lody

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.