COLUNA RAUL LODY
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O Pão de Santo Antônio

É um dos santos mais queridos e populares. Santo Antônio marca uma rica trajetória de fé e de devoção, e é também o santo escolhido pelos portugueses para estar nas Grandes Navegações pelo Ocidente e pelo Oriente nos séculos XV e XVI. 

Fernando de Bulhões, nome original de Santo Antônio, nasceu em Lisboa no dia 15 de agosto de 1195, e faleceu em 13 de junho de 1231, em Pádua. Inicia sua vida religiosa como agostiniano, e depois se torna franciscano.  

Antônio conheceu São Francisco de Assis, o que reforçou sua vocação religiosa e humanista. Antônio marca sua missão como um estudioso das sagradas escrituras e pela palavra como um defensor do povo.

No Brasil, há um rico e diverso processo de catolicismo que se une as manifestações religiosas de matriz africana; o que faz desse santo um personagem do cotidiano de diferentes manifestações religiosas. 

Santo Antônio, por exemplo, é um santo muito particular e pessoal, e, no seu culto, há uma espécie de intimidade e proximidade com o seu devoto, porque ele é um santo da intimidade da casa, um santo verdadeiramente familiar.

Santo Antônio, na Bahia, é reconhecido como o defensor da cidade do São Salvador quando da chegada dos holandeses. Ele está também relacionado ao orixá Ogum, e assim seus cultos são muitos e entre eles, por exemplo, a feijoada votiva oferecida em alguns terreiros de candomblé no dia 13 de junho, data em que se celebra na Igreja o santo.

Em Salvador, na Igreja de São Francisco, todas as terças-feiras são marcadas por um evento conhecido como “benção”, onde há a oferta do pão, e também uma benção especial para milhares de pessoas com água benta.  

E esta celebração coletiva une o santo ao orixá no imaginário dos afro-baiano. O pão, que simboliza Santo Antônio, traz o significado litúrgico do corpo de Deus, e se torna um alimento para saciar a fome de muitas pessoas que buscam estas ofertas nas igrejas. 

Ainda, há uma tradição sobre os pães consagrados a Antônio como símbolos da continuidade da fé e da permanência do alimento, numa crença associada a ter sempre comida nas casas, por isso, guardar-se o pão de Santo Antônio junto aos cereais nas cozinhas. 

 

Raul Lody  

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.