COLUNA RAUL LODY
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Que tal um cafezinho!

Beber o café é um habito da casa e da rua, e está integrado às refeições. É um convite para se encontrar com amigos, tornou-se argumento simbólico muito valorizado pelos brasileiros. 

Tudo isto acontece porque, na nossa cultura, o café representa uma bebida socializadora, tão socializadora quanto oferecer um copo d’água, por exemplo. Cada bebida tem um papel social que traz ou recupera imaginário, além de ser um forte elemento de comunicação e de identidade. 

Nas nossas tradições alimentares o café simboliza um tipo de humanização nas relações interpessoais, e ainda traz elementos de ludicidade que marca este hábito que se espalhou pelo mundo. Hoje, o café é a 2ª bebida mais consumida, fica atrás só da água que é a 1ª. 

Também, o café passou a nominar uma das nossas principais refeições diárias, o café da manhã. Servido puro ou misturado com leite; com ou sem açúcar; em diferentes quantidades são servidos em xicaras ou copos; ou naquelas xícaras que dão o sentido de tomar só um cafezinho.

Ainda, o café servido no copo do tipo “americano”, e o mais popular e, em especial, nas refeições rápidas dos balcões de estabelecimentos que comercializam comida, e forma uma dupla dinâmica com o pão com manteiga ou “pão na chapa”, quase um cardápio patrimonial, eu diria.

Na padaria, na mercearia, no bar, na lanchonete, são servidos milhões de xicaras de café diariamente, preferência que confirma que esta bebida africana verdadeiramente se nacionalizou. Assim como o hábito de finalizar a refeição com o cafezinho. 

Por causa do hábito de tomar café, um alimento tão importante no processo da comensalidade, está bebida qualifica-se cada vez mais na busca gastronômica dos seus diferentes sabores.

Há uma busca crescente pelo bom café, tanto na qualidade da procedência quanto na técnica de torrefação. Este processo de valorização é crescente na Bahia, onde se tem dado destaque para o café de torroir; numa ampliação qualitativa dos hábitos alimentares.

A importância crescente da busca de diferentes sabores do café tem sido ampliada as ofertas de diferentes misturas, blends, e da valorização da identificação da procedência dos grãos, entre outras mudanças nas embalagens. Assim, esses temas trazem para o nosso cafezinho um sentido cada vez mais especial.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.