COLUNA RAUL LODY
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Calulu & Caruru:  duas receitas de quiabo.

Na Bahia, há uma forte concentração de Carurus no mês de setembro, diga-se de festas, que são celebradas nas casas, nos terreiros de matriz africana, nas feiras e nos mercados, e todas para louvar os santos Cosme e Damião, e no olhar africano ioruba, para celebrar os Ibejis. O caruru é tanto uma receita quanto um verdadeiro banquete, onde há muitos pratos à base de azeite de dendê.

Já o calulu é um prato angolano do cotidiano, também muito tradicional, que é preparado com peixe fresco e/ou seco, quiabo, abóbora, berinjela, tomate, folhas de batata doce e/ou espinafre, pimentas, e temperado com o óleo de palma, azeite de dendê. 

Ainda, o calulu pode ser acompanhado por infunge ou funge, tipo de pirão feito à base de farinha de mandioca ou farinha de milho, uma farinha bem fina do tipo fubá. O calulu angolano tem em comum com o caruru baiano o uso do quiabo e do azeite de dendê, e de uma estética verde. 

Entretanto, caruru é também um dos nomes populares de uma folha comestível, que se apresenta em variedade e diversidade de tipos. Estas folhas devem ser consumidas após serem refogados, ou na forma de um guisado.

Há relatos de receitas feitas à base de folhas conhecidas como: caruru, caruru-rasteiro, bredo, bredo-rasteiro, que são da espécie Amaranthus deflexus L.. Ainda, há outras folhas da espécie Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn., que são chamads popularmente de: major-gomes, língua-de-vaca, maria-gorda; que têm no seu preparo azeite de dendê e camarões defumados.

Assim, vê-se que o nome caruru é amplo e diverso. É o nome popular usado para diferentes folhas, e é o nome de uma comida consagrada que é feita `base de quiabos. É um cardápio-banquete de devoção tanto para os santos Cosme e Damião quanto para os Ibejis.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.