COLUNA RAUL LODY
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Comer vai muito além de nutrir

Neste mês de outubro, quando se celebra o dia mundial da alimentação a comida e a fome são questões que trazem aspectos sociais econômicos, nutricionais nos contextos da soberania alimentar.

Cada vez mais a comida é percebida e valorizada enquanto uma manifestação de sensibilidade e de comunicação entre as pessoas. O ato de se alimentar exige todos os sentidos e sentimentos para ser então, verdadeiramente, integrada ao corpo e ao espírito.

Certamente na boca começa o coração. É justamente na boca, apoiada pelos sentidos da visão, olfato, audição e tato que a comida é integralmente entendida, assimilada e cerimonialmente assumida, ganhando valor simbólico.

Comer não é apenas um ato complexo biológico é antes de tudo um ato tradutor de sinais, de reconhecimentos formais, de cores, de texturas, de temperaturas e de estéticas. Pois comer é um ato que une memória, desejo, fome, significados, sociabilidades, ritualidades que dizem da pessoa que ingere os alimentos, o contexto, em que vive, comunicando também com os demais que participam do momento imemorial do ato de comer.

O valor cultural do ato de comer é cada vez mais entendido enquanto um ato patrimonial, pois a comida é tradutora de povos, nações, civilizações, grupos étnicos, comunidades, famílias, pessoas.

O sentido de pertencer a uma sociedade, a uma cultura nasce primordialmente no falar um idioma e de incluir receitas, pratos, criar hábitos cotidianos da comida. É então a comida um lugar que define e aufere a pessoa o seu pertencimento, quer dizer ter uma identidade, partilhar de um modelo que reúne ética, moral, hierarquia, definindo papéis sociais de homens e mulheres.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.