As nossas cozinhas regionais seguem, na sua grande maioria, diferentes cardápios no cotidiano, e isto revela as relações do homem com o tipo de agricultura, de colheita, de pesca, e de criação de animais, além de mostrar aspectos sociais e ecológicos que fazem parte da cultura, e assim se criam tipos e simbolizações que as comidas passam a representarem.
Trago a base civilizatória judaico-cristã que mostra nas celebrações do Natal, um ciclo que é identificado por diferentes comidas e bebidas, e com muitos rituais de comensalidade. Este ciclo compreende do dia 24 de dezembro até o dia 6 de janeiro, data que se comemora a visita dos Santos Reis Magos a Belém, no local do nascimento do menino Deus.
Sem dúvida, os cardápios traduzem muitos aspectos das festas, e também funcionam como elos socializadoras para as comemorações coletivas e, em especial, aquelas de base religiosa. Nestes contextos, há um alimento que se torna fundamental na criação de imaginários com o sagrado, no caso, refiro-me ao pão.
Está no pão uma forte aliança com Deus e, nestes princípios da fé e da cultura, vê-se as muitas receitas e seus variados usos em repertórios de diferentes cardápios pelo mundo.
Tudo nasce a partir do trigo, cereal utilizado na alimentação há mais de dez mil anos, que revela um dos mais importantes processos no uso das técnicas culinárias e na formação dos sistemas alimentares.
Exemplo do pão ritualizado está nas festas tradicionais e populares com a rosca de Reis ou bolo Rei, que no Brasil chega com a colonização dos povos ibérios, Portugal e Espanha. Este pão de formato circular busca a lembrança de uma coroa, no caso dos Santos Reis Magos. Esta rosca é confeitada com glacê de açúcar, frutas secas e cristalizadas. A rosca de Reis simboliza ainda um presente na forma de um alimento para ser partilhado, e comido com as mãos, preservando assim a comunhão.
Raul Lody