As escolhas das comidas acontecem não só pelos sabores, mas pelas oportunidades de consumo e pelo acesso aos ingredientes.
Com certeza, a comida vai muito além da alimentação, e traz muitos significados que vão desde os cenários social e cultural, até afirmações sobre as representações ideológicas de um povo, de uma região, de um segmento étnico, entre outras coisas.
Destaque para o caso do acarajé da Bahia, que é uma comida emblemática deste Estado, e que traduz uma base de africanidade já integrada a muitas outras referências como música, dança, vocabulário, roupa, processos culinários e religiosidade.
O acarajé ganha também o reconhecimento pelo governo do Brasil, e assim o “Ofício das Baianas de Acarajé”, e bens agregados, passa a integrar o Patrimônio Nacional.
Sem dúvida, este processo de reconhecimento oficial, que também é simbólico, passa por amplos processos de apropriação que chegam de interpretações livres e criativas. E estes processos nem sempre manifestam aspectos verdadeiros, e formadores de um entendimento sobre o acarajé nos seus mais variados âmbitos da alimentação afro-baiana. Exemplo é a atual onda de intérpretes do acarajé que traduzem a palavra como “bola de fogo”.
A partir da tradução direta do Ioruba, a palavra acarajé chega da união das palavras àkarà – pão ou biscoito –, e jé – do verbo comer –, ou seja: pão ou biscoito de comer. Ainda, pode-se interpretar como bolinho de comer, que é a tradução mais usual.
Assim, nesses contextos de salvaguarda do Oficio das Baianas de Acarajé, e certamente do acarajé, devem ser também preservadas as fontes de pesquisa e de documentação fundamentadas, que atuam e colaboram para o fortalecimento destas expressões da cultura afro-baiana.
Raul Lody