COLUNA RAUL LODY
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Cacahuatl: Histórias & Histórias

O cacau para os Astecas desempenhou muitos significados nas relações sociais dentro desta grande civilização da América Central. Funcionou como moeda, e como base para se fazer uma bebida sagrada que mantinha o equilíbrio entre os poderes terrenos e os poderes dos deuses.  Esta bebida feita à base de cacau reforçava a afirmação dos princípios míticos, e suas projeções para o trabalho e para os homens.

A partir das sementes do cacau, misturadas com milho, pimentas nativas, e ainda mel, apresentavam-se as maneiras de se preparar uma bebida que resultava numa experiência muito especial, por ser também muito estimulante em virtude da presença da teobromina, que se assemelha a cafeína.

Assim, essa bebida, que traz um sentimento sagrado, possibilitava o contato com os deuses, como aliás acontece com diversas outras bebidas de diferentes culturas, que têm como característica facilitar as comunicações nos rituais de êxtase religioso, como certamente ocorreu no Mediterrâneo com o vinho.

Uma bebida ritualmente consumida há mais de cinco anos, e que possibilitava o encontro entre os homens e os patronos das uvas e das técnicas de fazer vinho, os deuses Baco e Dionísius. O mesmo aconteceu com o sagrado chocolate para os povos milenares das Américas.

O chocolate, como bebida próxima ao que nós conhecemos hoje, surge com os espanhóis, após a invasão da América Central, século XVl. E buscaram interpretar, e adequar, a milenar receita ritual aos paladares da Europa, e juntaram as sementes torradas, e moídas, do cacau com leite, açúcar e baunilha, o que resultou numa deliciosa bebida. Bebida muito apreciada pela nobreza, e que, por isso, se espalha para outras culturas da Europa. E assim a bebida chocolate continuou a representar o poder, e, desta maneira, torna-se uma bebida consagrada aos reis e ao clero.

Raul Lody

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.