Cultura é a experiência aliada à identidade, ao pertencimento a uma história, ao conjunto de tradições reveladoras de pessoas e de lugares. Entre as fundamentais matrizes africanas que são formadoras da civilização da Bahia, a capoeira e o acarajé oferecem experiências de se viver através do corpo, dos gestos, da interpretação, da musicalidade do berimbau; a identidade que está na mistura de uma luta, dança, jogo; e no sabor e no cheiro do dendê, nessa comida que traz o sentido sagrado para Iansã.
Nessa Bahia africana, os símbolos da capoeira e do acarajé marcam lugares sociais de resistência, de memórias ancestrais, de afirmação de valores de homens e de mulheres que lutam para manter seus saberes e suas habilidades como verdadeiras assinaturas autorais, seja na ginga de um estilo de capoeira, seja no tempero do acarajé.
Reconhecidos por uma longa e fundamental trajetória de saberes, de expressões corporais, de arte, de estética, de música, de roupas e de receitas, a capoeira e o ofício das baianas de acarajé são reconhecidos nos seus mais profundos significados culturais para o Brasil, que passam a fazer parte da lista de Patrimônios Nacionais – IPHAN. E hoje, o ofício das baianas de acarajé é uma profissão legalizada e regulamentada; e a capoeira recebeu ainda o título de Patrimônio da Humanidade, UNESCO.
Mestre Pastinha e Dona Romélia, marido e mulher, juntam-se como “Mestres” dessas maneiras de fazer o corpo e o paladar se encontrarem no cotidiano para revelar as matrizes africanas na cidade do São Salvador. É a capoeira que fala com o dendê. É o acarajé que fala com o passo preciso na malícia de se jogar “Angola”.
Raul Lody.