A cozinha é um lugar especial, secreto, repleto de segredos, verdadeiro espaço ritualizado, autoral e antes de tudo um lugar de promover a vida, a nutrição e de pertencer a um modelo de civilização e de soberania alimentar.
Vê-as a cozinha enquanto um espaço físico e testemunho de sociedades, de etnias, de culturas; pois grande parte das memórias coletivas convivem entre panelas, tigelas, pratos colheres e principalmente receitas.
Assim as experiências com memórias, com os ingredientes marcam processos culinários e autores que manifestam desejos de arte e de saber fazer comidas nas suas bases de conhecimentos culinários integrados os muitos e diversos cenários culturais e sociais.
A transmissão oral é ainda a melhor maneira para transmitir e principalmente legar conhecimentos culinários tradicionais agregados às receitas e aos estilos e a “mão” de cada cozinheira ou cozinheiro, ou ainda no glamour de ser chef. Assim, une-se vocação, técnica e entendimento também patrimonial sobre a comida.
Para se fazer acarajé, por exemplo é preciso escolher os ingredientes e saber fazer a massa de feijão, encontrar o ponto da fritura no dendê e ainda observar a cor, o cheiro e a forma chegando-se finalmente ao gosto; destino, momento do contato simbólico entre a comida e a pessoa.
A cozinha é um lugar aberto a mudanças, aos experimentos e principalmente na manifestação de estilos individuais, assumindo verdadeiras assinaturas no ato de fazer comida e principalmente no ato de comer
Assim vê-se um valor tão propagado e aliado aos cozinheiros e cozinheiras, que é a mão, mão de cozinha, vocação aliada a técnica, ou então a capacidade de improvisar, criar e de traduzir o desejo do outro, inicialmente passado pelo próprio desejo de manifestar sabor.
Daí cada tabuleiro de acarajé ter um sentido autoral. E é por isso que são especiais certos acarajés , que revelam certas assinaturas do dendê. É a mão, mão de cozinha!!!!!
Raul Lody