A festa é um grande ritual coletivo, necessário, funcional, preciso, em fé e em sociabilidades. Nela se pode viver o território de maneira especial, numa quase síntese simbólica do cotidiano e das formas de produzir e de consumir.
Neste contexto, destaque para a comida de festa, comida especial, comida de celebração coletiva, porque elas unificam as devoções e socializam os desejos e as identidades de grupos e de sociedades.
Pode-se dizer que festejar é comer. Experimentar receitas especiais, receitas memoriais, que são preparadas para revelar sabores, cores e estéticas, dos pratos nas experiências de religiosidade. Assim, a comida une, iguala, e possibilita uma forma para se viver pela comensalidade um elo entre o homem e o sagrado.
Ainda, a comida da festa simboliza devoção, e aproxima o santo do devoto. Esta interação sacralizada acontece porque o santo irá comer junto com a pessoa. É uma maneira também humanizada de celebrar, de reforçar os laços, através de rituais que são uma verdadeira comunhão com os alimentos de cada cardápio de base religiosa.
E nas festas de São João, as comidas de milho marcam muitas receitas como a pamonha de milho, o acaçá de leite, o mugunzá, os bolos, os biscoitos; e há a inclusão do coco, da mandioca, como é o caso da pamonha de carimã, feita com massa puba e leite de coco.
O São João é um momento em que se come a festa, celebra-se os paladares e as histórias de devoção aos santos de junho.
E na Bahia, nas suas muitas e diversas cozinhas de fé e de festa, do Recôncavo ao Sertão, revela-se a devoção num cardápio de celebração que apresentam pratos que trazem o sabor do carimã, do milho, do coco, e dos licores com suas assinaturas autorais e, em especial, o feito de jenipapo.
Raul Lody