COLUNA RAUL LODY
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No São João comer a festa é preciso

A festa é um grande ritual coletivo, necessário, funcional, preciso, em fé e em sociabilidades. Nela se pode viver o território de maneira especial, numa quase síntese simbólica do cotidiano e das formas de produzir e de consumir. 

Neste contexto, destaque para a comida de festa, comida especial, comida de celebração coletiva, porque elas unificam as devoções e socializam os desejos e as identidades de grupos e de sociedades.

Pode-se dizer que festejar é comer. Experimentar receitas especiais, receitas memoriais, que são preparadas para revelar sabores, cores e estéticas, dos pratos nas experiências de religiosidade. Assim, a comida une, iguala, e possibilita uma forma para se viver pela comensalidade um elo entre o homem e o sagrado.

Ainda, a comida da festa simboliza devoção, e aproxima o santo do devoto.  Esta interação sacralizada acontece porque o santo irá comer junto com a pessoa. É uma maneira também humanizada de celebrar, de reforçar os laços, através de rituais que são uma verdadeira comunhão com os alimentos de cada cardápio de base religiosa.  

E nas festas de São João, as comidas de milho marcam muitas receitas como a pamonha de milho, o acaçá de leite, o mugunzá, os bolos, os biscoitos; e há a inclusão do coco, da mandioca, como é o caso da pamonha de carimã, feita com massa puba e leite de coco.

O São João é um momento em que se come a festa, celebra-se os paladares e as histórias de devoção aos santos de junho. 

E na Bahia, nas suas muitas e diversas cozinhas de fé e de festa, do Recôncavo ao Sertão, revela-se a devoção num cardápio de celebração que apresentam pratos que trazem o sabor do carimã, do milho, do coco, e dos licores com suas assinaturas autorais e, em especial, o feito de jenipapo.

Raul Lody

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.