Trago o caso de uma comida muito necessária, e liturgicamente comum nas cerimônias dos terreiros de matriz africana, presente no candomblé, que é o acaçá, com sua receita à base de milho branco, sem temperos, cozido em água, e envolta em folha de bananeira assada; porém ainda se pode acrescentar leite de coco, cravo, canela. O acaçá tradicional é também um complemento para os cardápios da mesa baiana.
Quando está no cardápio sagrado, o acaçá acompanha as comidas rituais que vão alimentar os deuses nos seus santuários, para depois serem partilhados numa refeição hierarquizada e simbólica.
Outra interpretação sobre o acaçá é o acaçá vermelho que recebe este nome porque é feito com um tipo de milho conhecido como milho-vermelho, e integra em especial os cardápios das cozinhas dos terreiros. O processo culinário é o mesmo da feitura do acaçá que é feito de milho branco.
O acaçá vermelho está nos cardápios de certos orixás. Pode-se afirmar que as cores das comidas, em âmbito sagrado, indicam usos e significados especiais para a organização das comidas rituais; e, indica também os temas da mitologia sagrada.
As comidas vermelhas trazem esta cor fundamental que remete ao sangue, a seiva da vida, ao fogo, aos elementos e aos mitos masculinos e femininos relacionados a fertilidade e também a natureza
. Assim, o acaçá vermelho, o acarajé que é frito no azeite de dendê a farofa de dendê, também conhecida como farofa vermelha; certas pimentas; os pigmentos africanos como o “ossun”, entre tantas outras referências representam esta estética funcionalmente relacionada à fertilidade e ao poder.
Então se comem as cores, as suas referências, nos terreiros e nas casas; pois, os rituais do comer estão muito além dos sabores e das receitas.
Raul Lody