COLUNA RAUL LODY
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Um museu/retrato do seu território.

Antecipando as atuais concepções interagentes com comunidades, memórias coletivas e outros segmentos étnicos, sociais e culturais, Gilberto Freyre divulga, em 1926, o Manifesto regionalista no Recife, dentro de um movimento de valorização e revalorização nacional no panorama das grandes transformações ocorridas no mundo após a Primeira Guerra Mundial.

Hoje, com as sociedades globalizadas, movimentos internacionais buscam o que é próprio e singular dos lugares, as manifestações e sinais de pertencimento de pessoas e povos.

Em seu Manifesto regionalista, Gilberto Freyre propõe revisões conceituais e teóricas dos museus,

“(...) Querer museus com panelas de barro, facas de ponta, cachimbos de matutos, sandálias de sertanejos, miniaturas de almanjarras, figuras de cerâmica, bonecas de pano, carros-de-boi e não apenas com relíquias de heróis de guerras e mártires de revoluções gloriosas (...). Desejar um museu regional cheio de recordações das produções e dos trabalhos da região e não apenas das antiguidades ociosamente burguesas como jóias de baronesas e bengalas de gamenhos do tempo do Império (...)” (FREYRE, Gilberto. Manifesto regionalista. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1955. p. 27).

Dentro dessa visão de levar o museu aos campos das identidades, da auto-representação e das representações da história, da arte, da economia, enfim da cultura, o Museu da Gastronomia Baiana retoma a inspiração do Manifesto Regionalista , tão bem olhado e interpretado pelo trabalho civilizador e humanista de Gilberto Freyre, apontando para a diversidade ecológica, social, econômica e cultural, revelando testemunhos sobre áreas do litoral e do Recôncavo, sertão e área sul do estado, concentradamente a civilização do cacau. nos cenários da multiculturalidade.

 

 

Raul Lody.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.