COLUNA RAUL LODY
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Sabores à beira do Paraguaçu

O recôncavo da Bahia oferece muitas saborosas opções de se comer o território. Um território profundamente afro-baiano que está repleto de comidas com dendê, como a maniçoba; com licores de frutas e, em destaque, o de jenipapo; com cachaças com folhas e raízes. Uma alimentação que traz diferentes maneiras de comer e de beber nos cenários da cana de açúcar, do tabaco, e da bela louça de barro de Coqueiros.

Sempre quando retorno a heroica cidade de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cacheira, ou simplesmente Cachoeira, é um mergulho nas minhas memórias, nas boas lembranças que nascem dos paladares, das referências do bem comer.

Os sentidos do paladar se unem aos dos sentimentos, e as memórias das tantas festas na Igreja e no candomblé, que fazem deste território um rico acervo de experiências afro-baianas, de receitas e de rituais sociais de alimentação.

Ainda das minhas memórias, é marcante nas festas do São João os banquetes à base de milho, de mandioca, com as emocionantes pamonhas de carimã. E no café da manhã, uma das maiores delícias é a banana-da-terra cortadas em fatias fininhas e fritas, douras no azeite de dendê; e depois pulverizadas com açúcar e canela. Sem dúvida, um encontro celestial com os deuses da comida.

Também, há os mingaus de milho, de tapioca, de carimã, de arroz, que são ricamente cobertos de canela. São as comidas que possibilitam os encontros com o terroir, com o sentido de viver o sabor de cada lugar, de cada território.

Afirmo que uma das minhas preferências, à beira do rio Paraguaçu, é olhar São Félix do outro lado acompanhado de uma moqueca de pititinga, aquela que nada no dendê e guarnecida com pirão de leite, daqueles bem encorpados, numa harmonização que dispensa qualquer estrela Michelin.

 

RAUL LODY

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.