“Cosme e Damião
Vem comer teu caruru
Que é de todo ano
Fazer caruru pra tú
Cosme e Damião
O que é que quer comer
Peixe da maré
Com azeite de dendê
Cosme e Damião
A tua casa cheira
Cheira cravo cheira rosa
Cheira flor de laranjeira”
(Poesia popular da Bahia)
Quiabo e dendê formam a base ritual para as comidas dos santos Cosme e Damião, também interpretados no sincretismo como os Ibejis, gêmeos nas tradições da cultura ioruba.
Assim, unem-se os cultos religiosos dos santos da Igreja com os ancestrais divinizados dos ioruba, que trazem um sentido de fertilidade, de nascimento, de vida e de ancestralidade.
Esses sentidos são celebrados na forma de cardápios de base africana que são marcados pelo azeite de dendê, como: acarajé, abará, xinxim de galinha, feijão de azeite, entre outras. Também, essa festa de comer tem uma denominação geral que é caruru, caruru de Cosme, ou caruru dos Ibejis.
Ainda, quando o oferecimento ritual das comidas segue um conjunto de momentos hierarquizados, ele é chamado de caruru de preceito. Estes carurus são realizados em rituais públicos, onde geralmente se começa com uma gamela de madeira com muito caruru de quiabo, e por cima farofa de dendê, legumes cozidos entre outras comidas. Então, a gamela é colocada numa esteira, ou numa toalha, sobre o chão; e na sequência são convidados sete meninos para comer, com as mãos, toda a comida da gamela. Os demais participantes dessa obrigação cantam e louvam os santos e os orixás. Após a refeição dos meninos, que representam os santos e os Ibejis, é servido o caruru para os participantes da festa.
No cardápio, além das comidas de azeite, há também roletes de cana, cocadas; milho branco cozido – ebô –; pipoca; e a bebida tradicional é o aluá feito de milho e rapadura.
Assim, nessa festa de comer, vive-se a devoção e a afirmação das identidades alimentares afro-baianas.
RAUL LODY