COLUNA RAUL LODY
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Quando o mar é a festa da Bahia

São tantas as festas populares e tradicionais da Bahia e, em especial, aquelas vividas na cidade do São Salvador.  Os lugares para se viver as festas são muitos, e estão diante as igrejas, nos adros, nas praças, nas ruas; nos terreiros de candomblé, nas casas, nos mercados, nas feiras; e em tantos outros espaços que afirmam a identidade de ofícios; que com o caso do amplo e lindo mar da Bahia, este território de pescadores, e de muitas devoções com os santos e as sereias.

Sem dúvida, a natureza, nas suas muitas e diversas representações, traz diferentes lugares para marcar e possibilitar as celebrações, os rituais, as devoções; e assim ela oferece vários cenários para se realizar nossa ampla e diversa expressão de religiosidade.

Ritualizar a natureza é estabelecer fortes relações simbólicas de respeito, de preservação, de expressão das culturas que trazem o meio ambiente e os temas das festas enquanto rituais coletivos das sociedades.

Assim, o mar da Bahia é celebrado com festas que unem memórias ancestrais de povos e culturas do continente africano, que se uniram na fé e na simbolização com os santos da Igreja; e juntos, de maneiras próprias e identitárias, realizam celebrações no mar para os deuses, para as sereias.

Destaque para a praia do Rio Vermelho, Salvador, no dia 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias, onde milhares de pessoas chegam com flores, perfumes, e principalmente devoção, para celebrar Iemanjá, orixá do mar, também a sereia do mar.

Muitos barcos, com dezenas de cestos, balaios com as comidas rituais de Iemanjá, feitos à base de milho branco e dendê, frutos africanos, obis; flores, tecidos, joias, frutas, bebidas; fazem os chamados presentes que serão depositados nas águas do mar.

Nesta grande celebração, vive-se um dos maiores momentos das festas de matriz africana na Bahia, também marcadas pelas comidas de rua e, em destaque, para os muitos tabuleiros de acarajé, abará, cocadas e outras delícias baianas.

Raul Lody 

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.