Cada festa, cada celebração, traz os temas para os seus cardápios que são identificados pela seleção dos ingredientes, e certamente pelos seus sabores e seus significados. As celebrações à mesa também trazem as interdições alimentares que fazem parte de um conjunto simbólico de comidas e das bebidas que não fazem parte da festa.
As comidas permitidas que marcam a celebração funcionam como elementos de unidade e de interação, pois quando comemos a mesma comida e bebemos a mesma bebida nós nos aproximamos uns dos outros, criamos elos morais e éticos durante a partilha dos mesmos sabores.
Também, os cardápios são orientados por questões religiosas que buscam nos ingredientes, nas comidas e nos rituais do oferecimento à mesa, os temas que possibilitem unidade social e cultural durante a comensalidade.
Acontece que muitos calendários populares e tradicionais são geralmente organizados a partir de datas e temas religiosos, e que são celebrados por comidas especiais, tanto em cerimônias públicas quanto em cerimônias privadas.
Desse momo, é a comida um elemento fundante da identidade de muitas manifestações religiosas, e que determinam muitos dos comportamentos nas nossas relações sociais.
O ciclo social e religioso da Semana Santa é culminado na sexta-feira, dia chamado como a Paixão de Cristo; e essa lembrança se dá à mesa com a realização de cardápios à base de peixes, especialmente o bacalhau, entre outras opções do mar, quase sempre acompanhados de azeite de dendê. Aliás os baianos referem-se a este cardápio como de comidas de azeite.
Reuniões à mesa promovem a feitura de pratos variados, e orientados pelo explícito tabu alimentar da não ingestão de carne vermelha, daí o hábito consagrado de comer peixes da Sexta-Feira Santa. E isto se amplia para fora deste calendário, e passa a marcar a sexta-feira como um dia dedicado aos ingredientes do mar.
E, em virtude das reuniões familiares, geralmente há um cuidado todo especial nos cardápios para que sejam relembradas as receitas, e que sejam revividos os pratos populares e tradicionais da região.
Assim, peixe ao coco, sururu ao coco, arroz e feijão de leite, diga-se leite de coco; vatapá, ensopados de camarão e ostras, escaldado de peixe, frigideira de camarão; frigideira de siri, bobó de camarão, arroz de camarão, moqueca de siri mole; pirão; bacalhau feito de diferentes maneiras; marcam este ciclo religioso cristão que culmina no domingo de Páscoa.
Raul Lody