Minha referência sobre esse peixinho tão gostoso vem das muitas visitas que fiz ao Recôncavo e, em especial, a Santo Amaro e a Cachoeira. As pititingas fritas, crocantes, e enfiadas em palitos de madeira, para serem comidas como uma refeição rápida; e se acompanhadas de cerveja bem gelada, ou de uma boa cachaça da região, era uma festa para o paladar e o espírito.
Ainda, a pititinga com muito dendê, e acompanhada por um suculento pirão de leite, e farofa de azeite e arroz, é um verdadeiro banquete. E mais ainda se houver a pimenta para ampliar as emoções à boca, e se harmonizar com o dendê, é um convite de pura emoção, para se viver a comida de corpo inteiro.
Conhecida também como manjuba ou manjubinha, a pititinga – Anchoviella lepidentostole –, é um peixinho muito popular dos oceanos tropicais. A sua interpretação mais tradicional é a moqueca no estilo “moquém indígena”, que era oferecido nos tabuleiros das baianas de acarajé, e conhecida como moqueca de folha. Era preparada sobre brasas, e as pititingas estavam embrulhadas nas folhas de bananeira, como o nosso abará e o acaçá.
A comida embalada em folhas mostra uma técnica milenar dos povos nativos fazerem comida. Técnica culinária como a do “tamal”, que acontece em toda a América do Sul, no México, e em outros territórios que dão continuidade às receitas das civilizações pré-hispânicas.
Na Bahia, há muitos preparos culinários que mantém essas técnicas dos povos nativos que passaram a se comunicar com a cozinha de matriz africana. A pititinga, e muitos outros peixes, vem marcar a cozinha baiana, essa cozinha de interpretações, de ingredientes da terra e do mar; de folhas e de frigideiras; e, de amplos e variados cardápios do Litoral.