COLUNA RAUL LODY
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Objeto, estética e sabor

O objeto tem uma fala funcional e simbólica porque a escolha do material, da tecnologia artesanal, ou industrial, empregada na sua construção, busca atender peculiaridades relacionadas a forma, ao tipo e ao uso; e, em especial, no caso dos implementos para a cozinha e para a mesa.

Dessa maneira, deve-se entender que cada objeto está integrado a outros objetos semelhantes, segundo suas características visuais, para formar um conjunto ou família de utilitários com diferentes usos e significados.

No processo de produção da comida é fundamental escolher o objeto específico para cada fase ou ação, peneirar, ralar, fatiar, frigir, coser, assar; entre tantos outras que atendem as diferentes tecnologias culinárias.

Tudo implica na integração de objetos, cada um com a sua identidade, o que possibilita um verdadeiro diálogo entre o usuário, o objeto e o ingrediente. Os objetos, utensílios culinários, têm como função apoiar a realização da preparação e consequentemente a estética da comida, como também atingir o sabor desejado.  

Por exemplo, uma farofa de dendê servida numa tigela najé que foi produzida pelas mãos do oleiro terá certamente um sabor especial que é atribuído pela estética do objeto, e pelo que o objeto traz sua referência cultural.

Alguidares, najés, quartinhas, quartas, quartinhões; pratos, gamelas, pilões de madeira, peneiras de fibras naturais; utensílios de flandres; panelas de barro de muitas formas e tamanhos, formam conjuntos variados de utensílios que são verdadeiros símbolos da criação e da identidade de um amplo e rico artesanato tradicional da Bahia.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.