COLUNA RAUL LODY
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Festas de Reis: comida, dança e poesia

Há muitas tradições no Natal, e elas se estendem de dezembro até janeiro, e isso torna este ciclo um dos mais importantes em diversidade de manifestações culturais. São muitos os momentos para se viver esse sentimento sagrado e criativo por meio de cardápios especiais, e os seus muitos rituais de comensalidade.

Sabe-se que festa e comida trazem um mesmo sentimento de celebração; e, assim, na festa de Natal é possível o encontro entre o homem e o mito, numa relação que aproxima o sagrado à comida, à dança, à música.

Partilhar, rabanada ou fatia de parida, vinho tinto, e tantos outros alimentos icônicos do Natal, possibilita uma forma de comunicação peculiar que faz parte desta festa um lugar onde a fantasia é possível, onde as pessoas saem dos seus papéis sociais e se misturam com santos nos autos.

Símbolos como o pão e o vinho marcam o imaginário cristão, e por isso são reveladores de fé; e, dessa maneira, a festa interpreta formas individuais e coletivas de manifestar religiosidade. E a Bahia é rica dessas manifestações que mostram o sagrado através das comidas, que no ciclo natalino se estende até o dia dos Santos Reis, 06 de janeiro. São cortejos e danças que marcam os patrimônios mais legítimos das culturas populares e tradicionais nas celebrações das casas e das ruas, são maneiras diversas de viver a religiosidade. Dos Ternos de Reis da Bahia, um destaque para os doces das festas que aqui são exemplificados nesses versos:

“Tem um belo pão-de-ló

O bolo inglês e o pudim

Tem confeitos

E bolinhos de aipim”.

Assim, está na preparação e no oferecimento das comidas da festa alguns dos mais notáveis momentos de expressar devoção religiosa.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.