COLUNA RAUL LODY
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Venha comer o Museu da Gastronomia Baiana

Sim! Num museu sobre comida, um museu que fala sobre as cozinhas da Bahia, tem-se que comer o Museu.

Com um olhar contemporâneo, plural e interativo, o Museu da Gastronomia Baiana tem nas receitas tradicionais um dos seus mais importantes acervos. Assim, o visitante tem uma experiência completa, e complexa, sobre a história e a cultura da Bahia através dos ingredientes, das comidas do Recôncavo e do Sertão. São quarenta opções de pratos salgados, e 16 doces tradicionais, que estão disponíveis aos olhos, ao olfato e ao paladar, para uma experiência ampliada de conhecimento e de interatividade do visitante com o Museu.

No circuito de visitação está o restaurante/museu/escola, um ambiente musealizado onde o visitante tem a oportunidade de COMER O MUSEU.  Dendê, farinha de mandioca, pimentas, feijões, milho, peixes, camarões defumados, coco, cravo, canela, açúcar, gengibre, quiabos, tamarindo, bananas, goiaba, galinha, carne verde, charque, legumes frescos, legumes secos, taioba, entre tantas outras ofertas de sabores, de cores, de odores, e de imagens que trazem histórias de povos, de etnias, de civilizações. E todas estão ali dispostas, prontas para serem sentidas, saboreadas. É a identificação multissensorial da cultura gastronômica da Bahia, onde Oriente e Ocidente se encontram nestas muitas opções de “comer à baiana” no Museu.

As receitas revelam que as Grandes Navegações trouxeram as especiarias da Índia, da China, do Ceilão; e também revelam a chegada de ingredientes da Costa Ocidental e Oriental do continente africano. É uma África fundadora, Mediterrânea, Magrebe; que traz bases de uma doçaria que se ampliou com o açúcar de cana sacarina, e com as frutas nativas e exóticas.

Revela, ainda, a presença de uma Europa encharcada de açúcar do Brasil, que nos séculos XVI e XVII, ampliou o legado de uma esplêndida doçaria.  Doçaria que também é patrimônio alimentar de sírios e libaneses, e de outros povos tão presentes na Bahia.

O conceito de um museu interativo se apresenta na forma como é possibilitada uma interação cultural, e vivencial, e que não pode se limitar apenas ao touch screen ou apertar botões. Isto porque a comida é, sem dúvida, uma das mais profundas linguagens de interatividade pessoal e coletiva; e as memórias de cada um são acionadas diante de um prato, e de tudo o que é capaz de revelar e emocionar.

Assim cada prato é uma “verdadeira coleção de sabores que ativam memórias”. E o acervo de base deste Museu tão contemporâneo se reinventa em cada novo processo culinário elaborado na cozinha. O Museu é uma experiência sensorial, humana e patrimonial, sobre o saber culinário do povo da Bahia.

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.