Sem dúvida, uma refeição inicia-se com os olhos, o tão conhecido “comer com os olhos”. É o momento que a comida é revelada com todas as suas cores e formas; e também como ela é servida, o que inclui a louça e os demais objetos que marcam e singularizam aquela refeição.
Dentro do amplo artesanato de utensílios para cozinha e para mesa feitos na Bahia no polo de Maragogipinho, destaque para diversa e criativa produção de cerâmica figurativa e utilitária: moringas, potes, pratos, canecas, panelas, travessas, farinheiras, entre muitas. São produtos que têm verdadeiras linhas de peças com características, estilos e identidade visual.
Por exemplo, a família de utilitários usados para conter água que é formada por: quartinha, quarta e quartinhão; também as miniaturas de utilitários, que é a louça “caxixi”; os alguidares de barro e de barro “vidrado”; e ainda a produção de tigelas e de travessas, em variados tamanhos, com elementos figurativos pintados sobre o barro e que ganham forte identidade na Bahia, refiro-me aos utensílios de “Nagé”. A produção da louça Nagé une-se aos muitos objetos de barro brunido e pintado com tauá, tipo de pigmento natural, ou com o uso de pigmento industrializado.
A pintura da louça Nagé é sempre escura, quase preta, sobre um barro cozido de coloração clara, e traz muitos temas como flores, folhas, elementos abstratos, figuras de pessoas, peixes; galinha d’Angola; entre tantas.
A louça Nagé marca um lugar importante na produção de utilitários que identificam a estética e o uso de objetos artesanais integrados aos hábitos dos baianos. São tigelas para servir molho fresco ou lambão; servir “lambreta”, servir farofa de azeite; feijão, andu, arroz; entre muitas outras receitas que servidas na louça Nagé trazem memórias afetivas e de sabores. Assim, a comida é amplamente sensorial. Ela é uma realização visual, e os utensílios fazem também parte do conceito do sabor e da identidade daquilo que se come.