No imaginário de devoção popular, e no universo das religiões de matriz africana, diferentes tipos de doces estão relacionados às crianças ou aos santos da Igreja, que são considerados infantis, como Cosme e Damião; ou no candomblé os orixás ainda crianças como os Ibejis, nas tradições dos ioruba.
Essas divindades, de grande representação popular no Brasil, são conhecidas nas diferentes tradições de matriz africana como: Dois-Dois, Bêje, Hoho, Crianças, Tobossis, Meninos; entre outros.
São selecionados muitos tipos de doces, tanto artesanais quanto industrializados, que se misturam para o oferecimento ritual feito pelos seus devotos nos altares, sejam organizados para os santos ou para os orixás. Há cocada-puxa, cocadas branca e preta, doce de tamarindo, lelé de milho, bolo de milho, amoda, rapadura, confeitos, balas, pirulitos, cakes; e, bebidas, como aluá, o vinho Moscatel.
Esses doces estão integrados à celebração, juntamente com o caruru de quiabos, que é um caruru-celebração, um tipo de refeição ritual que é partilhada com o santo e com as pessoas que participam da festa.
Sabe-se que as comidas e as bebidas funcionam como formas de comunicação, onde tudo que é oferecido no altar segue uma delicada seleção de ingredientes, de receitas, de cores, de estéticas; também o uso de utensílios, entre tantas outras maneiras para se construir um verdadeiro texto visual.
Assim, há nos altares: imagens dos santos; louças de barro em miniaturas, que contém pequenas porções de tudo o que é servido na festa; e, em destaque, quartinhas contendo água, aluá, além de outras bebidas. Também há flores, folhas especiais e votivas. É uma instalação que remete aos ritos ancestrais de fertilidade e de vida. É a religiosidade afro-católica que emociona milhares de baianos.
Raul Lody