COLUNA RAUL LODY
  • Compartilhe:
O doce da fruta madura e o sagrado afro- baiano

Na Bahia, são muitas as festas que celebram os santos da Igreja unidos aos orixás. As devoções chegam de memórias ancestrais que trazem grandes temas mitológicos que dão identidade para milhares de pessoas expressarem sua fé. São momentos para cumprir promessas, realizar cortejos, procissões, danças, cantos, comidas, que comunicam um sentimento sagrado. Também, as devoções promovem encontros coletivos como maneira de manter identidade e de marcar um lugar social na sua religiosidade, seja na Igreja e/ou no Terreiro de Candomblé.

A celebração da Conceição da Praia, padroeira da Bahia, é a festa religiosa da Igreja mais antiga do Brasil, por isso é muito popular na cidade do São Salvador.

Assim, no dia 08 de dezembro vive-se a grande manifestação religiosa que é   ampliada nos sentimentos devocionais dos baianos ao orixá Oxum. E, no dia 04 de dezembro vive-se o dia consagrado a Santa Bárbara, uma santa da Igreja profundamente identificada com o orixá Iansã, e com o ofício das mulheres que fazem e vendem acarajés na rua, as baianas de tabuleiro.

E, além disso, em dezembro, no Trópico, estamos em pleno verão, um momento onde há uma grande oferta de frutas suculentas e doces, próprias da época. Estas frutas integram o imaginário religioso de matriz africana do candomblé da Bahia, e fazem cardápios especiais que têm suas representações sagradas.  Mangas, cajus, abacaxis, entre outras. Este olhar para as frutas de época revela um sentimento próprio da fé afro-baiana.

As frutas maduras são oferecidas dentro de louças de porcelana e/ou de barro nos santuários onde se celebra Oxum no candomblé, e no entorno da igreja da Conceição, quando se vive um outro momento de partilha deste banquete de frutas durante as Festas de Largo.

 

RAUL LODY

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.