COLUNA RAUL LODY
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Caboclo um mito tropical nas tradições do Recôncavo da Bahia

Sem dúvida, o Recôncavo da Bahia abriga e preserva um grande patrimônio de matriz africana que se apresenta principalmente nas tradições e nas manifestações de uma rica religiosidade. Tudo isso traz memórias ancestrais do continente africano, que inventa e se reinventa, em formas dinâmicas de experimentar o que é sagrado.

Nestes cenários sociais, destaque para o candomblé de caboclo, uma criação do Recôncavo que reafirma a figura mitológica e heroica do caboclo, também como um forte símbolo da nacionalidade, do que é nativo, do que é brasileiro.

O caboclo é uma expressão afro-baiana, que tem vínculo histórico com a Independência da Bahia, ocorrida em 1823. Assim, neste ano de 2023, celebra-se o seu bicentenário.

A figura do caboclo é também marcada profundamente pela ecológica, pela terra, pelo território, pelo Brasil.  Ainda, como um guardião da natureza, as suas tradições religiosas buscam reproduzir os grandes símbolos daquilo que pode ser traduzido por nativo. Nesta maneira de entender o caboclo, há um cuidado especial de não reproduzir as comidas consagradas e identificadas como africanas, geralmente aquelas marcadas pelo uso do azeite de dendê.

Desse modo, as cores verde e amarelo, as frutas de terroir, as folhas; e tudo mais que possa trazer de maneira ampla e diversa aquilo que se entende por natureza, faz parte do simbolismo do caboclo. Este sentido nacional brasileiro está presente nas roupas rituais dos caboclos, geralmente formadas por saiotes e cocares de penas, e complementos como cabacinhas, fios de contas; entre outros.

Assim, está na Bahia, com destaque para o Recôncavo, a grande consagração do mito e o do herói que marca o entendimento do caboclo como um grande símbolo nacional, um personagem da história libertária da Bahia e do Brasil.

RAUL LODY

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.