COLUNA RAUL LODY
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Os três Reis Magos do Oriente e as tradições da Bahia

“Docinho de araçá

Também marmelada

Cerveja e vinho

Cerveja gelada”.

(Poesia popular, Ternos de Reis, Rio de Contas)

 

Muitas das nossas festas populares têm profundas relações com a fé e a religiosidade. Neste ambiente de celebrações, destaca-se o ciclo natalino que culmina no dia 6 de janeiro, dia dedicado aos 3 Santos Reis Magos do Oriente.

Assim, há muitas maneiras tradicionais de trazer estas tradições de base ibérica, e com acréscimos de matriz africana, para se viver e manifestar a identidade e o patrimônio da Bahia.

São cortejos de rua, música, dança, teatro; indumentárias especiais para expressar em cada celebração as maneiras de cultuar os Santos Reis Magos na sua jornada mítica para visitar a lapinha, que é a cena do nascimento do Menino Deus.

Sem dúvida, estas celebrações são também marcadas pelo oferecimento de bebidas e de comidas de diferentes tipos e receitas, indo de licores caseiros até cervejas, vinhos e outras bebidas.

Também, quanto as comidas, são aquelas caracterizadas pela tradição natalina, como as fatias douradas, fatias de parida, as tão celebradas e queridas rabanadas; bolos, pastéis, cocadas; doces de frutas, pão-delícia, mugunzá, mingau de carimã.

Há, ainda, as ofertas encontradas nos tabuleiros das baianas de acarajé; e, em destaque, acarajé, abará, bolinho de estudante, passarinha frita, e complementos como vatapá, caruru, camarão defumado refogado no dendê; molho de pimenta, o tão tradicional molho Nagô.

Estas celebrações, como as demais celebrações populares e de rua, têm suas identidades marcadas pelas comidas e pelas bebidas; pois comer e beber são expressões ritualizados de uma devoção religiosa. Porque comer é louvar e festejar.

 

Raul Lody

O AUTOR Antropólogo, especialista em antropologia da alimentação, museólogo. Representou o Brasil no International Commission the Anthropology of Food. Autor de vasta obra publicada com centenas de artigos, filmes, vídeos, e mais de 70 livros nas áreas de arte popular e gastronomia/cultura/ patrimônio. Reconhecido por premiações mundiais e nacionais pelo Gourmand World Cookbook Awards. Curador da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Pierre Verger e do Museu da Gastronomia Baiana do Senac Bahia.